Era uma vez uma pequena casa de madeira, plantada no interior, onde o tempo parecia correr devagar. Nessa casa moravam quatro personagens: uma mulher de mãos calejadas chamada Dona Terra, um homem inquieto que vivia com os pés na estrada, o Senhor Vento, e duas sementes muito diferentes entre si — uma precisava de cuidados constantes para crescer, e a outra sonhava em florescer longe dali.
O tempo passou. O Senhor Vento, que nunca gostou de raízes, logo se foi, levado por suas próprias tempestades. Deixou a casa para trás — e com ela, também o dever de cuidar das sementes.
Dona Terra, já cansada e cheia de sombras, tentou segurar tudo sozinha. Mas em vez de regar com amor, regava com álcool e gritos. A casa, que já era frágil, começou a rachar.
Uma semente, que nasceu com raízes curtas e frágeis, ficou. Precisava da luz e da água que quase nunca vinham. A outra semente, cansada de tanta escuridão, fugiu. Levou esperança no bolso e medo no coração. Foi parar num terreno longe dali, mas cheio de amor. Teve um caminho duro, mas o céu ali tinha alguma cor.
E ali, com paciência, ela aprendeu a crescer.
Com o tempo, essa semente virou árvore. Forte, firme, com galhos que alcançavam o futuro. E mesmo tendo enfrentado ventos frios, não esqueceu de onde veio. Voltava sempre àquela casa velha, agora com as janelas partidas, para cuidar da semente que ficou. Levava calor, comida e presença — coisas que o Senhor Vento jamais soube dar.
A casa, cansada, um dia sofreu um terremoto e adormeceu para sempre.
E a árvore ficou ali, de pé, ao lado da semente frágil. Sabia que o mundo não vê quem não anda, não fala, não reclama. Mas ela via. E protegia. Porque sabia que cuidar é um verbo que só floresce em corações que escolheram amar, mesmo quando não receberam o amor como deveriam.
Hoje, a árvore conta sua história para outras sementes. Mostra que é possível crescer, mesmo com raízes feridas. E convida o mundo a olhar com mais ternura para aqueles que ninguém mais vê.
👉 Se você cuida de alguém com deficiência, ou já foi a semente que precisou fugir para sobreviver, saiba: você também é árvore. E sua história merece ser contada.
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